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sexta-feira, 20 de maio de 2016

5.000 a.C.: Religião na Mesopotâmia

Mesopotâmia (Terra entre dois rios), situada entre os Rios Tigre e Eufrates, atualmente Iraque.

"A religião da Mesopotâmia é a mais velha que nos oferece documentos escritos. Baseada nas crenças sumerianas, propiciava orientação espiritual e ética aos negócios humanos, propunha uma explicação aceitável para os transcendentes mistérios da vida e da morte,, e deixou um legado que influenciou poderosamente as religiões posteriores". Samuel N. Kramer;

'' Os babilônios e os assírios, que sucederam aos sumérios, adotaram a maioria dos seus deuses e das suas práticas religiosas. Isso não quer dizer que os sacerdotes e poetas da última fase copiaram servilmente os protótipos sumerianos. Mas, de um modo geral, não puderam fugir à influência alastradora da herança deixada pelos antecessores, diz Samuel N. Kramer ''.

"Era natural que os sábios e pensadores concebessem em termos humanos a criação do universo e a organização da sua vida. Toda a sociedade humana, como eles a conheciam, toda a ação dos homens, era dirigida por pessoas. Também o universo - imaginavam eles - devia, pois, ser governado por entes antropomórficos, semelhantes aos homens, que em geral não eram perceptíveis aos humildes mortais". Samuel N. Kramer.

Escrita Cuneiforme
Bem, como nós observamos os primeiros ocupantes da Mesopotâmia foram os Sumérios, fundando assim a Civilização Suméria. Esses povos, antes de falarmos sobre sua religião, construíram as primeiras casas, os primeiros muros, os primeiros canais de irrigação, aprenderam a domesticar os animais, aprenderam a agricultura, plantar, cultivar e colher. Portanto, de acordo com vários estudos, os sumérios, antigos nômades, construíram as primeiras cidades que se tem conhecimento. Aprenderam também a manipular a argila para construção, pra cerâmica e para a escrita. Aprenderam a dar forma à matéria maleável. Inventores, também, do primeiro tipo de escrita, a escrita cuneiforme, revolucionaram, transformaram o modo de pensar e viver do mundo inteiro.

Trata-se da primeira religião Politeísta que se tem conhecimento, acabando com quase todo aquele Totemismo e Animismo que antes existira e, mais precisamente, se trata da primeira religião que se verifica a existência de deuses, com apenas, resquícios de Totemismo e Animismo. 

UTU


UTU, o deus-sol, uma das principais divindades sumerianas, ilumina o mundo com os raios que brotam de suas espadas. Era também conhecido como deus da justiça. Mais tarde o veremos na Babilônia sob a forma de Shamash, deus do sol e da justiça.


Ninhursag
A mãe-terra, Ninhursag, era a fonte de toda a vida. Dela nasceram as plantas; para salientar este seu papel, usava coroa de folhas e trazia na mão um ramo. Diversos seres que dominavam e governavam o universo, claro, deviam ter maior poder e maiores dons do que as suas cópias humanas na terra, e deviam viver eternamente, pois a alternativa, inadmissível, seria a de uma total confusão à sua morte. Invisíveis, onipotentes e imortais, eram deuses, dingir na língua sumeriana. Os deuses eram situados em ordem hierárquica, de acordo com a sua importância, ordem e poder.

Inanna

Inanna, deusa do amor e da guerra, aparece de pé ao lado da sua insígnia, pilares de portão com flâmula. Ela estava sempre presente onde quer que a vida fosse gerada.

Nos tempos mais recuados, ao começo do quarto milênio a.C., quando a cidade de Erech era dominadora da região, a principal divindade sumeriana prece ter sido o deus-céu, An. Quando uma cidade estava à frente da outra, a sua divindade também se tornaria superior a todos os demais deuses.



Durante um milênio, a partir de 2.500 a.C., Enlil continuou como chefe supremo do panteão sumeriano e, até certo ponto, também do babilônico e do assírio. Enlil é uma palava composta da língua sumeriana que significa "Senhor Ar"; foi ele a força motora para efetuar-se a separação do Pai Céu da Mãe Terra,  qual não tardaria a gerar a prole de Enlil. Este é, portanto, descrito como ''pai dos deuses'', o "rei do universo", o "rei de todas as regiões".

Enlil é dado como o autor do me, isto é, um conjunto de leis universais governando toda a existência. Para os mesopotâmicos, o me era uma resposta aos seus anseios de segurança num mundo conturbado. O me, engenhado por Enlil, governava a todos e a tudo no universo; aos mortais era um conforto saber que o céu azul,  terra fecunda, o lúgubre inferno, o mar bravio, tudo funcionava em obediência à determinação do me.

Marduk
Os deuses criam o homem a fim de que este institua seu culto e os alimente. O homem é feito de argila animada por um deus, Marduk, que será visto, mais tarde, na Babilônia. Os soberanos são filhos de deuses e são eles que asseguram a fecundidade da natureza, regulam as enchentes e presidem à vegetação.

Entre as principais divindades da suméria encontramos An, deus do céu; Nammu, a deusa-mãe, Inanna, a deusa do amor e da guerra, Enlil, o deus do vento, Sin, um deus lunar, Enki, deus da sabedoria etc. Cada deus sumério representava uma cidade e quando uma estava mais poderosa que a outra, seu deus também se tornava o deus mais poderoso, ou sobre o ponto de vista mitológico e politeísta, quando um deus se tornava superior aos outros em força e poder, a cidade que ele representava se tornava superior às outras. Como vemos, uma sociedade totalmente politeísta, pois adoravam vários deuses.

Zigurates
Os sumérios, que se supõe descidos da montanha, parecem ter conservado o "culto das alturas" que lhes inspirou, uma vez tornados mesopotâmicos,  construção dos zigurates, torres maciças de sete andares, das quais as de Ur e de Khorsabad nos transmitiram a imagem concreta, sendo a de Babel o mais famoso exemplar. Alguns estudiosos dizem que os zigurates eram santuários para os deuses descerem à terra, visitar os humanos, manterem o contato. Era um elo de ligação entre o céu e a terra.


Os sumérios não nos mostraram nenhuma evolução, nenhum progresso, muito menos regresso, pois cada tempo é como é, nunca há, nunca houve, e nunca haverá evolução neste mundo, o que se tem é transformação, eles transformaram o nomadismo e deram origem a vida sedentária, construíram várias cidades, várias esculturas, inventaram a escrita, criaram canais de água e domesticaram seus animas para não mais caçá-los, com isso se contaminaram com várias doenças dos animais e também com várias doenças de suas fezes e urinas. Mas uma coisa é certa: os sumérios, tinham uma fé muito grande, transformaram o modo de viver de todas as sociedades, do mundo inteiro e, com toda a certeza, havia, por trás deste povo, uma grande força atuando com muito poder, pois era uma sociedade com uma mente muito brilhante.

Um ou vários grupos de semitas, invadem a Mesopotâmia e chegam a dominar os sumérios e os acadianos. A conquista, começa no III milênio, e termina no começo do II milênio antes da era cristã.

No delta estabelecem-se os Babilônios (ou caldeus); mais ao norte, os Assírios. Os babilônios são mais intelectuais mas, os assírios mais vigorosos, mais brutais, mais guerreiros. Por isso os babilônios são dominados pelos assírios, mas exercem uma hegemonia espiritual comparável à da Grécia sobre Roma. Um grande soberano, Hamurábi, cria uma revolução na Mesopotâmia , é o que se denomina Síntese Suméro-Semítica.

Os sumérios contribuem com suas divindades e suas lendas. Os semitas trazem sua língua, rica e flexível, e seu gênio político: vão agrupar as cidades, e, com estas, suas divindades.

O deus de Nippur, Enlil tem grande influência.

Em Ur - a cidade de onde partiu Abraão, segundo a narração do Gênese - reina Sin, um deus lunar,

Em Babilônia o deus é Marduk. É a ele que se refere a lenda da criação, que continua com a lenda do dilúvio. Estas lendas de origem sumerianas, parece ter sido redigidas ao tempo de Hamurabi.

Tiamat e Marduk



Marduk é convidado pelos outros deuses para combater Tiamat, a divindade do oceano; recebe deles todos poderes. Vence Tiamat, impõe limites ao mar e cria o homem com a argila, a fim de que haja um ser que adore, sirva e conserve os deuses.




Ishtar - Deusa dos Acádios, antiga civilização
da Mesopotâmia ao lado dos Sumérios.
Mesmo após a dominação destes povos, pelos
Assírios e Babilônios, o culto a esta deusa con-
tinuou normalmente, como antes.

Alguns deuses , descontentes com os homens, decidem destruí-los. Enlil organiza o cataclismo. Um dos deuses Ea (Enki), aparece em sonho a uma homem de que gosta, Ut-Napishtim, e ordena-lhe que construa um navio. O homem aí coloca sua família, seus trabalhadores, seu gado, seus animais campestres e sementes. O dilúvio começa, afoga todos os homens. Os deuses horrorizam-se com tal espetáculo. A rainha dos deuses, Ishtar lamenta-se: " A antiga raça dos homens voltou a ser argila e eu concordei com uma coisa funesta, no Conselho dos Deuses, quando consenti nesta tempestade que destruiu meu povo!"


Enki (Ea): Segundo os Teóricos do Antigo
Astronauta, Enki seria a serpente, que deu 
conhecimento do bem e do mal ao homem
e a mulher, da História de Adão e Eva.
A tempestade desabou durante sete dias. Ut-Napishtim solta uma pomba, que volta, depois uma andorinha, que torna a voltar, depois um corvo, que não regressa. Faz, então, parar o barco e oferece, no cume da montanha, um sacrifício em torno do qual os deuses se juntam "como moscas". O deus que organizou o cataclismo, Enlil, queixa-se a Ea (Enki), que revelou seu plano, sua traição; depois, deixa-se acalmar e confere a imortalidade a Ut-Napishtim e à sua mulher.

Quando Babilônia prevaleceu sobre outras cidades, seu deus, Marduk, torna-se o grande deus. No tempo de Hamurábi, Marduk absorve os outros deuses, considerados como seus diferentes aspectos: enquanto ilumina as trevas ele é Sin; como deus da dominação, é Enlil; enquanto deus da justiça, é Shamash etc. É ainda o deus supremo no século VI antes da era cristã.

Shamash
Foi Shamash, isto é, Marduk, considerado sob o aspecto da justiça, que no II milênio antes de Cristo, teria ditado ao grande soberano Hamurábi um código de 282 artigos, dos quais alguns processos de sindicância são sumários e algumas penalidades exageradamente severas, mas que, no entanto, contem muitas normas razoáveis. Alguns estudiosos comparam o Código de Hamurábi com o Código Mosaico, pois este ultimo também veio de revelação divina, o Deus dos Hebreus que ditou a um profeta, conhecido como Moisés, 600 anos depois de Hamurábi, mas não vem ao caso, pois vários profetas existiram, várias pessoas receberam revelações de Deus, cada um com a sua fé.

Ao lado de Marduk, a divindade mais popular é Ishtar, deusa da estrela da manhã e da estrela da noite, do amor, da maternidade e da fecundidade. Prostitutas sagradas são empregadas em seus templos.

Ishtar é mãe ou a esposa, ou amante de Tamuz, também chamado o filho o pastor, o senhor. Ele é morto, segundo certas lendas por um javali, segundo outros, pela própria Ishtar, e desce aos infernos. Ishtar lamenta-se, quer procurá-lo "na casa das trevas, na cada onde ninguém que entra volta uma vez entrado nela". Deixam-na entrar, mas, em cada uma das sete portas ela deve dar uma peça de suas vestes; chega nua à frente da rainha dos infernos, que a conserva prisioneira. Durante muito tempo de seu cativeiro, a terra seca, torna-se estéril; o desejo acaba, homens e animais vão desaparecer. Os deuses, receando ficar sem sacrifícios, intervêm junto às divindades infernais. Ishtar é libertada, volta à terra, acompanhada por Tamuz ressuscitado. Segundo alguns textos posteriores, o jovem deus pertencerá, numa metade do ano, à deusa do amor e,  noutra metade, À deusa dos infernos. Explica-se assim, a morte da natureza no inverno, seu renascimento no estio e justificam-se os ritos destinados a assegurar o retorno da vegetação. As mulheres lamentam o desaparecimento de Tamuz. (Ezequiel viu as mulheres se lamentando por Tamuz à porta do Templo de Iavé (Javé ou Jeová) e indignou-se. Ezequiel Cap. 8, Ver. 14).

Gilgamesh
Outra lenda se liga a Ishtar, a do Rei Gilgamensh. A deusa apaixona-se por ele, mas ele recusa seu amor, sabendo que ela mata todos seus amantes. Ofendida, ela manda contra ele um touro furioso, mas o homem o vence, graças à ajuda que lhe dá seu amigo Enguido (talves um leão), ser coberto de pelos e ser muito esperto. Ishtar amaldiçoa Enguido, que morre. Gilgamesh atacado de lepra, receia morrer também. Parte para a Ilha dos Bem-aventurados para consultar seu ancestral, o homem que escapou do dilúvio e se tornou imortal, Ut-Napishtim. Este o cura da lepra, mostra-lhe uma planta que dá a juventude. Gilgamesh apodera-se dela, mas uma serpente a devora. (Mais uma vez a serpente nos tira o direito à vida eterna, como no mito de Adão e Eva, pois por causa dela perdemos esse direito).

O deus dos mortos autoriza-o a falar com Enguidu. Este hesita em cofiar-lhe a triste verdade. Depois diz-lhe como são infelizes os mortos, salvo os que foram mortos nas batalhas:

O homem com quem ninguém se preocupa
- Como tu e eu já temos vistos -
É devorado pela fome, não tem alimento,
É obrigado a comer o que atiram à rua...


Sargão I
Outra lenda se liga ainda a Ishtar, a do Rei da Assíria, Sargão I. Filho de pai desconhecido, é exposto numa cesta de caniço no Eufrates, salvo por um camponês e amado por Ishtar, que o faz ascender à realeza. (Alguns estudiosos comparam esta lenda com a do profeta Moisés, mas, esquecem que, ao estudar religião, o mais importante é crer para entender, pois estudar religião sem crer, nada se entenderá. Esses fatos, ao contrário de imitação, significam que Deus pode fazer qualquer um que seja digno, subir ao mais alto escalão da sociedade, da noite para o dia, basta a fé. Não estamos aqui para criticar nenhuma religião, é apenas um documentário e prova de que desde o início de todas as sociedades a busca pelo conhecimento, em relação ao divino, é a mesma, cada povo ao seu modo. Concluímos então que Deus realmente existe, cada um com a sua religião, cada um busque sua salvação!)

Ao tempo de Hamurábi, em que todo os deuses se concentram em Marduk, "o nome da semita Ishtar torna-se sinônimo do nome comum deusa, e todas as outras divindades femininas quase desapareceram perante ela".

Assur, a principal divindade dos Assírios.
Embora venerando outras divindades, notadamente Ishtar, o assírios possuem um deus principal que foi, a princípio, o deus local da cidade de Assur, antes de tornar-se seu deus nacional: Assur.

Os assírios, tendo organizado a mais temível força militar que o mundo conheceu antes de Roma, acreditavam honrar seu deus, Assur, através de abomináveis crueldades que acompanham suas vitórias: Massacre dos vencidos, deportação de povos em massa, destruição, em seus túmulos, dos monarcas venerados pelos inimigos, confiscação de seus deuses; eis os processo que asseguram a dominação de Nínive mas que levantaram contra ela tanto ódio que sua destruição foi recebida em toda a Ásia Ocidental com alívio.

Outros aspectos da vida religiosa sobre tudo na Caldéia, são menos odiosos. Os salmos da penitência pedem aos deuses perdão pelos pecados cometidos seja contra eles, seja contra outros homens, o que dá, a estes hinos, força moral:

"Sentado entre suspiros, com o coração opresso, sofredor e queixoso, no meio de lágrimas e de suspiros amargos, ele geme, tal pomba, dia e noite, apaixonadamente implorando ao seu deus misericordioso, como uma vaca selvagem".

Num Livro da Sabedoria encontram-se pensamentos razoáveis e generosos: "O homem sábio finge saber menos do que sabe" - "Faze o bem a quem te faz mal".

O regime político é sempre uma Teocracia, seja na Babilônia ou Assíria. Todo poder emana de deus ou dos deuses. O rei é o representante de deus na terra. Seu primeiro dever é entreter os deuses.

Tal é o objeto do sacrifício, ato essencial do culto. O animal do sacrifício parece ser um substituto do fiel, que devia ser ele próprio comido pelo deus. Como diz o poema:

"Ele entregou o cordeiro pela sua vida. Ele entregou cabeça de cordeiro por cabeça de homem".

Todas as práticas do bode expiatório, todas as esperanças de salvação pela imolação de um cordeiro divino, eis as consequências ocidentais do sacrifício caldeu.

Segundo  literatura acadiana, o sacerdócio teria sido um presente dos deuses à humanidade, a qual deveria, portanto, servi-los. Havia um grupo de sacerdotes à serviço dos deuses, mas é bom lembrar que esses sacerdotes não praticavam atividades exclusivamente religiosas, já que os templos, também, eram lugares em que se realizavam algumas importantes atividades econômicas. Estando a serviço dos deuses, os sacerdotes deviam, além de prestar adoração às divindades, limpar suas estátuas, vesti-las e lava-las, pois acreditavam ser a estátua o próprio deus. Havia sacerdotes especializados nas mais diversas atividades como a medicina, musica e arte divinatória, e essas pessoas deveriam observar vários rituais em relação a pureza física e espiritual. Aqueles que tivessem mau hálito, por exemplo, eram excluídos.

A arte divinatória exerceu grande influência na Mesopotâmia, pois através dela, os mesopotâmicos controlavam a ordem da natureza, e esta uma vez controlada, atuava em benefício da população, pois conseguiriam identificar mais facilmente os acontecimentos e fenômenos naturais.

Os mesopotâmicos imaginavam seus deuses como sendo muito maiores que os homens, tanto em tamanho como em poder, mas também sujeitos às mesmas fraquezas e paixões tipicamente humanas.

Os deuses eram considerados os reais governantes da comunidade. e todo elemento divino, acreditava-se, emitia uma luz especial chamada de melã, que provocava reações de espanto e terror nos fiéis. Os mesopotâmicos chamavam essas reações de ni.

Os mesopotâmicos, ao contrário dos egípcios, viam a morte com muito pessimismo. Enquanto os egípcios tinham uma visão positiva e abençoada após a morte, uma visão de abundante fertilidade, os mesopotâmicos tinham uma visão empobrecida da vida pós-morte e que viveriam na escuridão, coberto de penas e se alimentando de argila. A morte era a "terra do não-retorno", repleta de escuridão e poeira, como podemos ver no trecho retirado de um texto mítico, quando Ishtar desce ao mundo dos mortos:

 "Para a casa escura [...] para a casa na qual os que entram não podem sair [...] na qual poeira é seu alimento, argila seu pão [...] Eles não veem luz, eles vivem na escuridão."

Nergal
A visão da morte para os mesopotâmicos era oposta ao mundo dos vivos, na qual faltavam as coisas necessárias à vida.

A terra dos mortos era governada por Nergal e por sua esposa Ereshkigal, os quais constantemente queriam aumentar o número de seus súditos. A terra dos mortos se chamava Kur. E com isso esses deuses do mundo dos mortos (Kur) eram associados a qualquer tipo de doenças ou desgraças na Mesopotâmia.

Uma das maiores abominações dos mesopotâmicos era o fato de o cadáver não ser enterrado, pois era na tumba que se iniciava a passagem para o outro mundo. Do mesmo modo que o morto insepulto, aquele que tivesse seu ritual mortuário interrompido ou negligenciado era condenado a viver como espírito errante, que espalharia todo o mal na terra dos vivos.


Lilith - Acusada de vários males,
doenças e mortes, inclusive de ter
sido a serpente do mito da criação.
Há 3.000 antes da era cristã teve-se conhecimento de uma força gigantesca, uma força maligna, uma deusa muito antiga que sobrevive até hoje. Uma deusa que teve muita influência na Mesopotâmia e que também é muito estudada ainda hoje, é Lilith. Associada a ventos e tempestades, que se imaginava portadores de enfermidades e mortes.

Em vários livros sagrados, como o Talmude dos judeus, Lilith é tratada como um demônio. Liliths, segundo estudos, tinha 100 filhos por dia, e estes se alimentavam das energias gastas nos atos sexuais dos humanos e também de sangue humano.

Segundo alguns relatos católicos, ela tinha habilidade em atrair homens e lhes esmagar com seus peitos, ou até mesmo cortar seus pênis com sua vagina. Ainda hoje há cultos realizados em seu nome, quando o assunto é bruxaria ou magia negra. É, sem dúvida, uma deusa suméria de muita história.



Muitas idéias religiosas provém desta Mesopotâmia - onde os judeus foram obrigados a habitar durante o cativeiro da Babilônia - como o valor do céu, o valor do sacrifício expiatório, os mitos da criação e do dilúvio, e a explicação das variações das estações pela ressurreição de um deus. Assim agradecemos a essa grande civilização, pois contribuiu, duma forma gigantesca, com o nosso modo de ser e pensar.












quinta-feira, 19 de maio de 2016

Animismo

É e religião que coloca em toda a natureza espíritos mais ou menos análogos ao espírito do homem.

Segundo os estudiosos das transformações que ocorreram sobre o pensamento místico e religioso de todas as sociedades, trata-se do segundo tipo de religião que se tem conhecimento, sendo mais nova, apenas, que o totemismo.

Encontra-se no Animismo algumas das teses essenciais do Totemismo: ideia de mana, tabu, rituais, ideia de ancestrais míticos, semi-animais, semi-humanos.

Por outro lado, encontram-se sobrevivências do Animismo, como do Totemismo, em todas as religiões de todos os meios.

Entretanto, temos o direito de designar pela palavra Animismo a religião de numerosas sociedades, mais evoluídas que as tribos australianas, mas que, comparadas às sociedades de antiga civilização, parecem primitivas: por exemplo, as sociedades negras da África não-muçulmana, as sociedades polinésias, as sociedades índias atuais das duas Américas, os povos esquimós etc.

Para o primitivo, a alma está estreitamente ligada ao corpo, a certas partes do corpo; para os australianos, sobretudo à gordura dos rins.

A alma pode deixar o corpo momentaneamente sem que este morra: ela exerce, então, sobre ele, a alguma distância, ação de presença. É o que chamam de Alma exterior. A alma pode ser roubada, comida, transportada e, em determinados casos, substituída, consertada, reformada, etc. Entre os índios cherokee, durante uma batalha, o chefe coloca a alma na copa de uma árvore; em vão o inimigo atira, pois ele não é morto nem ferido. Seu adversário, porém, conhecedor, também, desse ardil guerreiro, manda atirar sobre os ramos e o chefe, então, cai morto.

Para o primitivo, "a individualidade não se detém na periferia de sua pessoa"... A mentalidade primitiva confunde-a com o próprio corpo, com o que cresce sobre ele e com o que dele sai, as secreções e as excreções: cabelos, pelos, lágrimas, unhas, urina, esperma, suor ... As práticas mágicas feitas nesses resíduos corporais agem sobre a própria pessoa, da qual são partes integrantes. Daí o extremo cuidado que cada qual toma, em grande número de sociedades, para evitar que seus cabelos ou fragmentos de unha, os seus excrementos etc. caiam nas mãos de terceiro, que possa ter más intenções. Dispor dessas coisas é dispor da sua vida. Os pelos, secreções etc. do indivíduo constituem ele próprio, como seus pés, suas mãos, seu coração e sua cabeça. Pertencem-lhe no sentido mais lato desta palavra. Chamaremos de pertenças.

A estes elementos de individualidade é preciso acrescentar as marcas que o corpo deixa sobre um assento ou sobre o chão e, em particular, as pegadas. Colocando-se uma criança nos traços deixados por um mágico poderoso, tem-se a esperança de que ela participe de seu poder.

Pertenças são, ainda,  sombra do indivíduo, seu reflexo na água, sua imagem (donde o receio de ser pintado, desenhado ou fotografado, medo geral entre os primitivos). Pertença é o nome: um excelente observador dos esquimós, Rasmussen, diz que para eles, o homem compõe-se de um corpo, uma alma e um nome. Um viajante viu fidjianos moribundos gritarem desesperadamente seus nomes a fim de se manterem vivos.

Pertenças são as vestes: uma mulher tendo posto sobre si a roupa suada de um homem, torná-se grávida. Pertenças são os utensílios constantemente manuseados, os objetos que um indivíduo possui e que em determinadas sociedades, queimam-se à sua morte.

A morte sobrevém porque a alma, princípio da vida, abandona definitivamente o corpo. Entretanto, o espírito do indivíduo permanece ligado a seu corpo, permanece ligado ao cadáver. Por isso o cuidado com os mortos, pois ele tem muito ciúme de seu corpo em relação aos vivos, e pode vingar-se. Os mortos tem necessidade de comer e de beber e também desejos de honrarias.

A mentalidade primitiva, segundo estudiosos, aceita que o morto, através de sua alma, esteja presente em vários lugares ao mesmo tempo, mesmo habitando outro mundo, eles possuem um poder muito maior que os vivos.

O mundo dos mortos é exatamente oposto ao mundo dos vivos. Tudo nele é invertido. Nosso dia, para eles, é noite, é de noite que eles voltam à terra; é de noite que é perigoso encontrá-los. No entanto a sociedade dos mortos é dividida em clãs, como a dos vivos.

Pode acontecer que os mortos se reencarnem e pode acontecer que desapareçam para sempre. Se se tratassem de almas puramente espirituais, elas seriam também imortais. Nas sociedades primitivas, porém, que ignoram estas espécies de almas (imortais), não encontramos, em nenhuma parte, a crença na imortalidade. Por todas as partes acredita-se numa sobrevida, mas em nenhum lugar se imagina uma vida sem fim... A crença na morte dos mortos é praticamente universal.

Em todo caso, enquanto eles vivem, é da sua boa vontade que dependem a prosperidade, o bem-estar, a própria existência de seus descendentes.

Sonhos: O mundo primitivo ´feito de imagens, sempre tomadas como realidades, sejam elas recebidas durante a vigília, ou animem o sonho, ou sejam evocadas a titulo de presságio, ou correspondam antigas tradições.

Na África Equatorial, por exemplo, considera-se uma viagem feita em sonho como tendo sido realmente realizada pelo sonhador. Entre os índios, aquele que sonha ter sido picado por uma serpente, tem que tomar todos os remédios como se, realmente, houvesse sido picado. Entre outras tribos, se você sonha fugindo de um leão, deve sonhar novamente e ter coragem de enfrentá-lo, destruir seus inimigos.

As imagens de que é constituído o mundo exterior são penetradas por forças espirituais, ou dominadas por elas.

Disposições humanas: As disposições humanas tem seu lugar entre essas forças espirituais. Elas se exteriorizam e contribuem para determinar, por sua própria força, acontecimentos felizes ou infelizes. Em Taiti, por exemplo, um piedoso homem leproso faz um branco deitar-se sobre sua túnica leprosa, mas o homem leproso tem bons sentimentos para com aquele que deitou em sua túnica, de um modo que não foi contaminado o homem, pois só seria contaminado se o homem leproso assim o quisesse.

Lei de participação: Nas representações coletivas da mentalidade primitiva, os objetos, os seres, os fenômenos podem ser, de maneira incompreensível para nós, ao mesmo tempo eles mesmos e outra coisa diferente deles mesmo. Por exemplo, certos índios do norte do Brasil, os bororos, embora se saibam gente, proclamam-se araras.

Magia: Em muitas sociedades, a abundância de alimentos e a regularidade das estações são relacionadas com  realização de determinadas cerimônias ou com a presença de uma personalidade que desfruta de poder misterioso.

Tornamos a encontrar aqui, no coração do animismo, como do totemismo, a ideia desta força impessoal, ao mesmo tempo material e espiritual, difundida por todas as partes e que na Melanésia chamam mana.

Todos os ritos que eles executam tem por objeto, ou defender-se dele, quando não estão preparados para suportar-lhe o contato, ou, ao contrário, quando sofreram a iniciação necessária, assimilar a maior parte possível de sua substância sagrada. O sacerdote é o homem que possui mana a vontade e pode, consequentemente, usá-lo quando quiser. O santuário, por seu lado,, é o lugar em que o mana se concentra em quantidade notável.

 Se forças místicas, que podem ser comparadas a espíritos, animam a natureza, o homem poderá exercer ação sobre ela como age os seres espirituais, através de palavras e gestos apropriados. Tal influência constitui o essencial daquilo que se denomina magia. A magia é a técnica e estratégia do animismo.

Palavras pronunciadas em voz alta ou cantadas são forças. Pode-se fazer desaparecer as doenças usando fórmulas como:

O papagaio voou.
O cuco voou.
A codorna voou.
A doença voou.

Imitando um acontecimento, o fazemos reproduzir. Antes de empreender uma expedição, simulam-na com todas as minúcias; dançam-se danças guerreiras: a vitória fica, assim, assegurada. Derramando água, obedecendo-se a certos ritos, produz-se chuva. É  o que se chama a magia imitativa.

Chama-se também, às vezes, magia simpática à que utiliza participação que existe entre o indivíduo e sua imagem. Quebrando ou destruindo a imagem, acredita-se ferir ou destruir o indivíduo. É o princípio da bruxaria. Viu-se, anteriormente, que se pode agir sobre outras pertenças, além da imagem, como. por exemplo, sobre os pelos, os excrementos, as pegadas do indivíduo etc. É o que se chama, por vezes, magia contagiosa.

Amuletos apotropaicos: Determinados objetos são dotados de poder mágico - afastam a desgraça ou produzem felicidade: amuletos, talismãs, feitiços. Quase todos os adornos com que se compraz a garridice, tanto masculina como feminina, só se transformam em enfeites após haverem, primeiro, servido de amuleto.

Para paralisar a ação de um mau bruxo, o bom feiticeiro pratica um contrafeitiço. "O espírito do remédio age sobre o espírito da doença".

Sendo o bruxo inimigo da sociedade, é preciso despistá-lo, é o objeto de um ordálio, isto é, uma provação que poupa os bons e castiga os maus. Faz-se a provação, na África Equatorial, pelo veneno, "espécie de reativo mítico" que não é mortal senão para os culpados.

Um dos produtos mais preciosos da magia pode ser o êxtase. Designa-se frequentemente pela palavra chamane o mágico que causa o êxtase. O xamanismo é, sobretudo, desenvolvido na Sibéria, ao norte e ao cento da Ásia.

Mitos:  Finalmente, encontra-se nas sociedades animistas como nas totêmicas, uma mitologia, um sistema de mitos.

Os mitos descrevem a história sobrenatural colocada num passado longínquo, sem relação com o passado histórico. Esse passado é, aliás, presente. 

Quando os primitivos dizem que o mundo místico está na origem de todas as coisas, tal não significa somente ser ele de uma antiguidade por assim dizer transcendente e meta-histórica, mas também, e sobretudo, que tudo quanto existe dele proveio ou que este período é criador... Os fatos da criação não estão vivos na lenda sob o único título de acontecimentos separados nitidamente do presente por um abismo de tempo escoado no intervalo. Por mais que uma cena mística esteja colocada na época da criação, seus autores estão ainda vivos e sua influência ainda dominante.

O mito permite entrar em contato com os antepassados do período místico e conseguir que sua ação se renove periodicamente. As cerimônias em louvor dos ancestrais míticos - cerimônias em que atores mascarados e em trajes especiais dançam ao som de música - são as mais surpreendentes manifestações do culto animista.

A pré-história aplicada à Europa, interpretando especialmente os desenhos, pinturas e esculturas encontradas nas grutas da França meridional e da Espanha setentrional, estabeleceu que os primeiros habitantes dessas regiões deviam ter uma religião bem próxima do totemismo ou do animismo.

Essas cavernas deviam ser santuários, locais sagrados. Os desenhos, pinturas e esculturas estavam localizados no fundo mesmo da gruta - como, ainda hoje, as pinturas rituais dos negros australianos são traçadas sore paredes rochosas, em lugares tabus, proibidos às mulheres e aos não iniciados. A própria posição das obras de arte mostra que se não trata aqui de decorações ornamentais, mas de operações mágicas. Desenhando, pintando, esculpindo animais, - mamutes, renas, bisões, cavalos, veados - o primitivo julga exercer ação sobre eles. Representando-os feridos, a fim de serem mais facilmente atingidos e feridos por suas armas. Representa feridos apenas os machos, pois é preciso respeitar as fêmeas, que asseguram o futuro da raça.

Na caverna de Tuc d'Audoubert (Ariége) (Caverna de Le Trois-Fréres) descobriu-se um casal de bisões escupido na argila, em alto relevo, de sessenta centímetros de comprimento: à frente, a fêmea, passiva, com o pescoço esticado; atrás, o macho, meio erguido sobre as patas traseiras, "formidável, pesado, concupiscente". Trata-se de obter, por esta representação figurada, a reprodução da espécie animal de que vivem os caçadores. 

As danças, como os cantos e a música, deviam já ser processos mágicos.

Acabamos de verificar que a magia animista parece ter estado na origem do desenho, da pintura, da escultura, da música, logo, direta ou indiretamente, de todas as artes. Se refletirmos no papel magnífico que a arte desempenha ou podia e devia desempenhar na vida humana, só se pode ser conhecido a essa religião primitiva pelos benefícios por ela legados aos homens de todos os séculos.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Totemismo

Totemismo é a religião que subordina um grupo de pessoas, denominado clã, a seres que para eles são considerados sagrados, que podem ser animais (canguru, leão, papagaio, etc...), espécies de plantas ou até mesmo coisas como o mar, chuva, astros, etc..

De acordo com vários estudos realizados nas mais diversas civilizações e em todos os continentes, se trata da religião mais antiga de todos os tempos, a mais antiga forma de o ser humano manifestar seu pensamento em direção a um mundo sobrenatural.

A palavra totem eram empregada por alguns índios da América do Norte, os algonquins. 

Foi entre os índios da América do Norte que primeiro se estudaram as instituições e crenças totêmicas. Na metade do século XIX descobriu-se que fatos análogos tinham sido encontrados entre os primitivos da Austrália. Fica-se sabendo, então, que a Austrália é a região em que melhor se conservou o totemismo. À medida que vai crescendo o conhecimento sobre essas instituições totêmicas, conclui-se que essa (religião) teve um grande desempenho e impacto na história da humanidade.

O totemismo é constituído de quatro ideias fundamentais: Totem, Mana, Tabu e os Ritos.


Totem

É a espécie de seres ou de coisas que todos os membros de um clã afirmam ser sagrados. Por exemplo, todos os membros do clã do canguru consideram sagrados todos os representantes desta espécie, todos os cangurus.

O totem é também o nome que tem todos os membro do clã e une a todos. Por exemplo, se faço parte do clã do canguru, logo sou um canguru, todos os membros do clã do canguru são chamados de cangurus. Na maioria das sociedade a criança tem por direito de nascença o clã de sua mãe.

O totem é também um símbolo, "o brasão de um grupo".
Desenham este símbolo sobre o chão, sobre os escudos, sobre os muros das casas, nos botes, nos postes e troncos de madeira, e algumas vezes essas pinturas são realizadas com sangue, pois o sangue é sagrado. Muitas vezes o sinal totêmico é impresso no próprio corpo, em forma de tatuagem, no vivo antes da reunião de seu clã, e no morto antes de seu sepultamento.

Muitas vezes exteriorizam a força e poder de seu totem por meio de cortes de cabelo ou pelo penteado. Por exemplo, no clã do búfalo, os cabelos são dispostos em forma de cornos; no clã da tartaruga cortam o cabelo de um modo que fica se parecendo com a cabeça, as patas e o rabo do animal. Quando o totem é um pássaro chegam a usar até as penas do animal. 

O totem ao mesmo tempo que possui um caráter coletivo, de separação de grupos e costumes, possui, antes de mais nada, um caráter religioso, muito sagrado.

O caráter sagrado passado do totem e de suas imagens ao homem.

- Durkheim: "A razão da santidade pessoal é que o homem acredita ser, ao mesmo tempo que um homem no sentido usual da palavra, um animal ou uma planta da espécie totêmica. Com efeito, ele usa seu nome: ora, a identidade do nome passa, então, a implicar uma identidade da natureza... Um membro do clã do canguru chama-se, ele mesmo, um canguru; ele é, pois, em certo sentido, um animal desta espécie."


O totem é frequentemente considerado o pai ou o avô, o ancestral dos membros do clã.

Na tribo, que é dividida em grupos totêmicos, todos os seres, todas as coisas são classificados em relação ao seu totem. Todos os animais, as plantas, a chuva, os astros, o trovão, as estações são divididos entre diferentes totens. Em uma tribo australiana por exemplo, o sol é uma cacatua branca, ele é uma cacatua branca, a lua uma cacatua preta, ela é uma cacatua preta, o cavalo uma cacatua marrom, etc... O totemismo, assim como a mitologia grega, coloca o divino em tudo.







Mana

Primeiramente, essa palavra é um termo melanésio. Significa uma força impessoal, não material, sobrenatural, supra-sensível que se materializa nos preparados, pois é uma força espiritual espalhada em todos os objetos em relação ao totem: se estende às imagens, objetos, seres, a todas as coisas.

- Codrington: " É uma força, uma influência de ordem imaterial e, em certo sentido sobrenatural; mas é pela força física que ela se revela ou então por toda espécie de poder e de superioridade que o homem possui. O mana não é fixado sobre um objeto determinado; pode existir em qualquer espécie de coisas... Toda religião do melanésio consiste em alcançar o mana, seja para dele beneficiar-se pessoalmente, seja para terceira pessoa beneficiar-se desta energia."

A mesma ideia encontra-se entre os índios da América do Norte, onde ela é chamada de wakan, entre os Sioux, orenda, entre os iroqueses, manitu, entre os algonquins, etc... Nas tribos da Austrália o temo churinga é as vezes utilizado para designar tal princípio.

É a este princípio comum que se dirige, na realidade, o culto. Em outros termos, o Totemismo é a religião, não de tais animais, ou de tais homens, ou de tais imagens, mas de uma espécie de força anônima e impessoal, que se encontra em cada um dos seres, sem se confundir, no entanto, com qualquer deles. Ninguém a possui inteiramente e todos dela participam. Os indivíduos morrem; as gerações passam e são substituídas por outras; mas esta força anônima permanece sempre atual, viva e semelhante a si mesma. Anima as gerações de hoje como animava as de ontem, como animará, também, as de amanhã. Quem sabe possa ser essa força um deus impessoal.

O totem é apenas a forma material sob a qual é representada às imaginações esta substância imaterial, esta energia difusa através de toda espécie de seres heterogêneos, que é sozinha o objeto verdadeiro do culto.

Tabu

Tabu é tudo que em determinado clã é tido como proibido. O tabu visa, essencialmente, a separar o sagrado do profano.

É, em princípio, proibido matar e comer os animais sagrados ou totêmicos, colher e comer o vegetal totêmico, salvo em determinadas cerimônias sagradas. É proibido trabalhar, às vezes comer, durante os dias consagrados às festas religiosas. Nos dias de cerimônia é proibido o contato com qualquer coisa mundana, pois tudo o que é para satisfazer desejos materiais ou carnais é profano, por isso a proibição até do trabalho em suas festas religiosas, pois o trabalho não tem outro fim senão prover as necessidades temporais da vida.

É proibido matar um membro do mesmo clã; é proibido unir-se a uma mulher do mesmo clã; é preciso arranjar esposa fora do clã: dever de exogamia.

Rituais ou Cultos

Tudo começa com os chamados Cultos Negativos: A observância das proibições; Certas cerimônias tem por objetivo concentrar sobre uma única pessoa um sistema completo de proibições.

A pessoa iniciada em um culto negativo deve retirar-se da sociedade, deixar de ver mulheres e os não iniciados, viver no mato ou na floresta, sob a orientação de um ancião. É-lhe proibido a maioria dos alimentos e lhe é proibido tocar nos que lhe são permitidos: os anciãos lhe põe na boca a quantidade necessária indispensável à sua sobrevivência e nada mais que isso. O iniciado em um culto negativo também não pode falar, nem distrair-se ou mover-se... O resultado de toda essa provação é um segundo nascimento, e a partir de agora ele já pode fazer parte da vida sagrada e dar início aos cultos positivos, tomando parte nos ritos. 

Não pode viver uma vida religiosa um pouco intensa sem antes começar a deixar a vida material, a vida profana e toda a sujeira do mundo. O culto negativo é, pois, em certo sentido, um meio em vista de um fim, é a condição de acesso ao culto positivo.

Culto Positivo: Comporta todo o conjunto de práticas rituais.

Pode-se citar, primeiro, uma grande festa, a intiquiuma, celebrada na ocasião da primavera que se segue a uma breve estação chuvosa. Os membros do clã dirigem-se, inteiramente nus, isto é, tendo abandonado todas as suas vestes profanas, a um local em que pedras e rochas simbolizam os ancestrais fabulosos identificados aos totens. Por diversos processos, por exemplo espalhando um pó fecundante esperam assegurar a reprodução abundante e a multiplicação da espécie totêmica. Depois, purificados por uma estrita observância das proibições, reúnem-se para consumir, juntos, o animal sagrado. " Comungam o princípio sagrado que aí existe e assimilam-no.'' Trata-se da Instituição sacrificatória: os banquetes sacrificatórios tem por objetivo fazer comungar numa mesma carne o fiel e seu deus, a fim de criar entre ambos um vínculo de parentesco.

Deve-se, de agora em diante, considerar como assente que a forma mais mística da comunhão alimentar é encontrada desde a religião mais rudimentar presentemente conhecida.

O culto positivo comporta ainda os Ritos miméticos: Vem da crença que o ''semelhante produz o semelhante'', fazem-se gestos ou reproduzem sons visando a imitar o animal do qual se deseja assegurar reprodução abundante: gestos de canguru saltando, da lagarta abandonando a crisálida; gritos de cacatua ( o chefe do clã repete este grito toda uma noite, parando somente quanto está sem forças; é então, substituído por seu filho, mas recomeça assim que se sente um pouco descansado).

Há, ainda, Ritos comemorativos ou representativos: Supõe-se que o clã descende de antepassados míticos que criaram as planícies, as montanhas e os rios, semearam os germes dos vivos. Recordam-se essas histórias legendárias. Às vezes uma espécie de representação dramática permite a eles assistirem como eram seus antepassados. Nesses ritos até as mulheres e os não iniciados fazem parte.

Ritos expiatórios: Festas tristes que tinham por objeto ou enfrentar uma calamidade ou, simplesmente, recordá-la e deplorá-la.

Sendo o morto um ser sagrado, é necessário, em sua presença, suspender toda a atividade profana.

O animal totêmico, cuja absorção da força e poder, torna-se, para aquele que o consome indevidamente, um princípio de morte.

Obs: O primitivo não viu, nos seus deuses, estranhos inimigos, seres essencial e necessariamente maléficos, com cuja proteção seria obrigado  pôr-se de acordo a qualquer preço; bem ao contrário, os deuses são para eles amigos, parentes, protetores naturais. Eles não imaginam o poder a que se dirige o culto, planando muito alto sobre si, esmagando-o com sua superioridade; ele está, ao contrário, bem próximo e lhe confere poderes úteis que sua natureza não tem. Jamais talvez a divindade esteve mais próxima do homem que nesse momento da História, pois ela está presente nas coisas que povoam seu meio imediato e é, em parte, imanente a si mesmo.

Os australianos admitem que cada corpo humano abriga um ser interior, princípio de vida, uma alma. ( Algumas tribos, entretanto, não outorgam alma à mulher ). Cada vez é a alma de um antepassado que aparece no corpo novo. Na morte, ela entra na região das almas, voltando, depois, a encarnar-se.

Os ancestrais foram seres totêmicos, animais ou vegetais, ou homens-animais, por exemplo homens-cangurus. Ora, "os ancestrais são o totem fragmentado". Pois é da reencarnação de um ancestral que provém a alma individual, " a alma, de maneira geral, não é outra coisa senão o princípio totêmico, encarnado em cada indivíduo"; é o mana individualizado. Pode-se explicar assim, o fato de a alma ser uma coisa sagrada, oposta ao corpo, coisa profana.

Nas sociedades que o totemismo se enfraqueceu, a alma pode ainda ser imaginada sob a forma animal: entre os índios da América do Norte, entre os bororos do Brasil, a alma é concebida como sendo uma animal: um urso, um papagaio, uma serpente, uma abelha. Pela morte de um indivíduo, ela retoma sua forma original, reencarna-se em um animal ou seja, num corpo de um animal.

Desencarnadas, as almas tornam-se espíritos. Sua sobrevivência é indispensável à continuidade da vida cotidiana. Uma parte do espírito ancestral reencarna-se no corpo da mulher; uma paira sobre o recém-nascido, protege o homem, serve de gênio tutelar. Certas almas de falecidos escolhem seu domicílio nas florestas, tornando-se espíritos das florestas ou das cavernas, ou espíritos da natureza.